Por Ruy Cavalcante
Não é novidade alguma que a turma do
“não julgueis” cresce cada dia mais dentro da comunidade evangélica, mesmo com
toda a deturpação da essência do Evangelho que esta expressão acompanha. Como
ela cresce, cresce também a necessidade de se continuar falando a respeito, a
fim principalmente de acalmar aqueles irmãos que estão amedrontados com a
possibilidade de serem amaldiçoados, caso repreendam os falsos profetas e erros
doutrinários pelos quais são bombardeados todos os dias.
O interessante dessa turma é que
condenam apenas aqueles que julgam os erros cometidos pela própria igreja, mas
nada falam quando o julgamento é contra os de fora da igreja evangélica (como
os políticos, por exemplo) ou contra os adeptos de outras religiões. Mais
irônico ainda é que na medida em que condenam o julgamento contra os da Igreja,
eles mesmos estão praticando um julgamento, e neste caso um julgamento
absolutamente hipócrita, este sim condenado por Jesus (Mt 7:5).
Por certo, existem várias
justificativas para este tipo de comportamento, donde uma das principais é se
utilizar de algumas passagens referentes a Jesus, no que tange seu tratamento
com pecadores com os quais Ele se relacionava.
Quanto a isto, gostaria de esclarecer
algo. Notem que não se pode fundamentar, nas atitudes de compaixão e
solidariedade de Jesus para com os pecadores do povo, a ideia de que não
podemos agir de outra maneira diante daqueles que, dentro da igreja, deturpam o
Evangelho.
Nos evangelhos há uma clara distinção
entre o tratamento dispensado por Jesus aos pecadores comuns, e o tratamento
que o mesmo Jesus dispensava aos falsos mestres, falsos profetas, fariseus,
saduceus e aqueles que faziam comércio das (e nas) coisas de Deus.
Para os pecadores comuns Ele dizia
coisas como: "Eu também não te condeno, vá e não peques mais" (Jo 8:11). Atitudes semelhantes encontramos aos montes, e Ele de fato tinha um
tratamento bem especial diante de pecadores como a mulher adúltera, publicanos,
dentre outros, atitudes das quais temos grande necessidade de imitar.
Porém para os pecados cometidos
contra a verdade das sagradas Escrituras, Ele mudava totalmente o discurso,
dizendo coisas como: “Hipócritas! Raça de víboras! Sepulcros caiados! Bandidos!
Salteadores!” (Mt 21:12-13; Mt
23).
Notam a diferença?
Ele nunca tratou como "raça de
víbora" um pecador do povo, uma pessoa comum que, pela sua natureza caída,
pecou, mas tratou assim todos aqueles que, conhecendo a verdade, não se
submetiam a ela, antes a deturpavam de todas as formas possíveis!
Ora, se é pra se fundamentar nas
atitudes de Cristo, façamos então isso, e ensinemos isso, mas de forma
completa, não apenas na parte que nos interessa de forma a justificar nossa
omissão, nossa covardia e, por vezes, nossa aprovação aos falsos mestres que
vomitam dia e noite na sã doutrina. Observe o que o Apóstolo João fala a
respeito destas coisas:
“Todo aquele que vai além do ensino
de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino,
esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz
este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o
saúda participa de suas más obras”. (II Jo 1:9-11)
Esse texto é auto explicativo,
portanto não há necessidade de comentar a respeito dele.
Em tempo, quando me refiro a
“julgar”, falo sempre na perspectiva bíblica, que toma por fundamento e
diretriz a inerrante Palavra de Deus, não nossos “achismos”, dogmas, tradições
e preconceitos. Devemos julgar sim, mas com fundamento nas Escrituras, quer
seja para aprovação, quer seja para a reprovação de ensinos e atitudes, tendo
por motivação primária o amor pelo perdido, para que ele não se perca ainda
mais, achando que se encontrou.
“Vocês não sabem que haveremos de
julgar os anjos? Quanto mais as coisas desta vida!” (I Co 6:3)
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