segunda-feira, 19 de julho de 2010

Hupomonê, Uma Virtude Destemida

Hupomonê é uma das palavras mais nobres de todo o Novo Testamento. Normalmente vem traduzida por paciência ou perseverança, mas não temos em português uma palavra que transmita toda a plenitude do seu significado.
No grego clássico não é uma palavra muito comum; é usada desde resignação à labuta que sobreveio ao homem contra a sua vontade, de suportar o aguilhão do pesar, o choque da batalha e a chegada da morte. Tem uso muito interessante: é usada para a capacidade de uma planta de sobreviver em circunstâncias severas e desfavoráveis.
No grego posterior, na literatura judaica mais avançada, é especialmente comum; no livro apócrifo de IV Macabeus, por exemplo, é aquela qualidade de “poder de resistência espiritual” que capacitava os homens a morrerem por Deus ou em nome de Deus.
No Novo Testamento o substantivo hupomonê é usado trinta vezes, e o verbo correspondente hupomenein é usado no mesmo sentido por quinze vezes. Conforme dissemos, a tradução normal do substantivo é paciência, e do verbo, perseverar, mas quando examinarmos pormenorizadamente o seu uso, algumas verdades, que são inspirações começará a emergir.
(1) Hupomonê é muito comumente usada em conexão com tribulação. A tribulação produz perseverança (Rm 5.3). O cristão o deve recomendar-se “na muita paciência” e “nas aflições” (II Co 6.4). Os tessalonicenses são recomendados por sua “constância” e fé nas “tribulações e perseguições” (II Ts 1.4). O cristão deve ser perseverante (hupomenein) na “tribulação”. Tal uso é comum em Apocalipse, pois é caracteristicamente o livro do mártir (Ap 1.9; 3.10; 13.10).
(2) Hupomonê é usada em conexão com a fé. A provação da fé produz “perseverança” (Tg 1.3). É hupomonê que aperfeiçoa a fé.
(3) Hupomonê é usada em conexão com a esperança. A tribulação produz esperança (Rm 5.3). São a paciência e a consolação que produzem a esperança (Rm 15.4,5). É a firmeza da esperança dos tessalonicenses que é louvada (I Ts 1.3).
(4) Hupomonê está vinculada com alegria. A vida cristã é marcada por perseverança e longanimidade com alegria (Cl 1.11).
(5) Hupomonê em sua maior frequência tem conexão com algum alvo da glória, com alguma grandeza futura. As referências são muito numerosas para serem citadas por extenso (Lc 21.19; Rm 2.7; Hb 10.36; II Tm 2.10,12; Tg 1.12; 5.11).
Agora podemos perceber a essência e a característica desta grande virtude de hupomonê. Não é a paciência que se pode sentar e curvar a cabeça, deixando as coisas descendo contra ela e aguentar passivamente até a tempestade passar. Não é meramente passar por algumas coisas. É o espírito que pode suportar as coisas, não simplesmente com resignação, mas com a esperança fulgurante; não é o espírito que fica sentado num só lugar, esperando estaticamente, mas, sim, o espírito que suporta as coisas porque sabe que estas coisas o estão levando para um alvo de glória; não é a paciência que aguarda inflexivelmente o fim, mas a paciência que espera radiantemente a aurora. Tem sido chamada “uma constância masculina debaixo da provação”.
Já foi dito que ela sempre tem um pano de fundo de andreia, que é coragem. Crisóstomo chama hupomonê de “raiz de todo o bem, mãe da piedade, fruto que nunca murcha, fortaleza que nunca é tomada, porto que não conhece tempestades”. Chama-a de “rainha das virtudes, alicerce das ações corretas, paz na guerra, calma na tempestade, segurança nas conspirações”, e diz que nem a violência dos homens nem os poderes dos malignos podem lesá-la. É a qualidade que mantém o homem de pé enfrentando o vento, “não com resignação taciturna, mas com santa alegria; não apenas com a ausência de murmuração, mas com um cântico de louvor”.
Somente a hupomonê, a virtude destemida, pode capacitar o homem a agir dessa forma!

sábado, 10 de julho de 2010

OS NOVOS APÓSTOLOS E SEUS APELOS POLÍTICOS

OS NOVOS APÓSTOLOS E SEUS APELOS POLÍTICOS
João A. de Souza Filho
Pois meus amigos, estou inquieto, muito inquieto e até certo ponto desolado com os apelos que recebo pela Internet. O último apelo que recebi veio da parte de uma pessoa que se apresenta como “apóstola”. Eu a conheço faz tantos anos. É uma pessoa sincera, fiel, grande pregadora. Juntos viajamos, e juntos choramos tantas vezes diante de Deus, intercedendo a favor da igreja e da sociedade brasileira. Mas, ela foi separada para ser apóstola – e, consequentemente nos separamos. Ainda a admiro muitíssimo. Mas, creio que ela perdeu o foco da visão. Não somente ela, mas aqueles que se dizem apóstolos e profetas hoje no Brasil perderam o foco do propósito de Deus – ou conhecem e têm revelação de um foco espiritual e de um propósito divino que desconheço!
Ela apela para que nós os evangélicos nos unamos e votemos na candidata a Presidente Marina Silva. Marina Silva, indiscutivelmente é mulher de coragem e de caráter. Contaram-me que leu meu livro Ecologia à Luz da Bíblia que foi editado em 1992. Excelente mulher.
Mas, particularmente não concordo que os líderes da igreja brasileira fiquem atrelados a candidatos políticos, e que façam apelos para que se vote em algum deles em particular. Ora, basta que se divulgue o perfil educacional, político e religioso de cada um deles, e as pessoas decidirão sozinhas em quem votar.
Os pastores deveriam ficar engajados na obra de evangelização, da edificação do corpo de Cristo, na prática das boas obras e na intercessão contínua diante de Deus a favor da nação.
Por isso, a cada dia fico mais convicto de que a maioria dos chamados apóstolos são falsos – e não estou afirmando que não existam homens que sejam verdadeiros apóstolos. Os verdadeiros apóstolos demonstram seu ministério sem precisar ostentar o título. Isso acontece também com os demais dons ministeriais. Os verdadeiros pastores, mestres, profetas e evangelistas não precisam da ostentação do título para se apresentarem. Eles são o que são. Assim, existem hoje verdadeiros apóstolos, mas não esses que aí estão e ostentam títulos. Ninguém precisa de título para ser respeitado: A autoridade é espiritual e não pelo título ou posição eclesial.
Posso afirmar biblicamente que o falso sempre aparece antes do verdadeiro. Antes de Jesus aparecer, havia muitos que se denominavam Messias. Teudas apareceu no cenário israelita e era acatado “por todo o povo” (At 5.36). Conforme a história muitos surgiram em Israel afirmando serem o Cristo. O próprio Jesus falou sobre isso.
Aguardamos a chegada dos verdadeiros apóstolos, que não pensam em si mesmos, nem no seu reinado, fama, e no enriquecimento à custa do ministério. Jesus Cristo ainda continua sendo o modelo de apóstolo, e seus apóstolos são também modelos de apóstolos. Querer afirmar que vivemos noutra época não é desculpa para se deixar de viver a vida simples, de despojamento a favor do reino de Deus.
É por isso que continuo afirmando que os líderes que aí estão, fazendo política partidária, buscando seus próprios interesses e de seus feudos espirituais não fazem parte do rol dos verdadeiros apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres da Igreja. São falsos. À luz das Escrituras são falsos! Estão enganando a igreja e os escolhidos!
Por que afirmo isto? Porque os verdadeiros apóstolos devem ter algumas características que os assemelhem aos apóstolos da igreja primitiva. E os que andam por aí ostentando títulos de apóstolos sequer seriam indicados para servir as mesas, como os irmãos escolhidos em Atos 6.

Pense nisto!