quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Compreendendo Melhor o Sofrimento

Por Pastor Sérgio Pereira

Sofrimento: eis um assunto um tanto falado e tão pouco explicado em nosso meio. O sofrimento do cristão torna-se assunto das campanhas das famosas noites de libertação, onde se promete o alívio imediato, a solução rápida, como se num passe de mágica tudo se resolvesse. Mas, não é tão simples assim. Nem sempre estas soluções imediatistas que foram “profetizadas” por “vasos” acontecem. Os tais “profetas” se enriquecem a custa dos sofrimentos de muitos incautos cristãos que continuam enviando suas “sementes de fé” para verem se conseguem um pouco de alívio em meio a tanto sofrimento.
Mas, afinal por que tantas pessoas, independente se são boas ou más, precisam sofrer tanto? Como pode Deus permitir isto? O diabo é tão forte que Deus não possa impedir o mal? É Deus o causador de tantas desgraças? Estas são apenas algumas perguntas pelas quais os filhos de Deus se confrontaram ou se confrontarão um dia na sua existência. A Bíblia Sagrada tem respostas para tais perguntas e questionamentos.
O sofrimento é dolorido. Às vezes, parece que tudo se foi, que qualquer restauração é impossível. Uma coisa é certa: somente a velha natureza precisou morrer. São somente escórias que cai, a firmeza espiritual em nós pode suportar as provas de fogo e não perecer. Cada cristão tem uma capacidade diferente para suportar a provação (I Co 10.13). Jesus nos ajuda a levar a pesada cruz até o fim. Nosso homem interior se renova diariamente, diz o apóstolo Paulo, até que sejamos transformados na imagem de Cristo. As provações são concedidas, para manifestar a nós e aos outros o que realmente está dentro de nós.
Entre os propósitos do sofrimento na vida do cristão podemos destacar os seguintes:
Ø O sofrimento nos ajuda a vencer o pecado (I Pe 4.1-3)
Ø O sofrimento nos ajuda a testemunhar de Cristo (I Pe 4.4-6)
Ø O sofrimento nos ajuda a manifestar um terno amor pelos irmãos (I Pe 4.7-9)
Ø O sofrimento nos ajuda a colocar os dons que Deus nos deu a serviço de seu povo (I Pe 4.10,11)
Precisamos entender e compreender que o sofrimento do cristão é a prova do genuíno relacionamento de amor existente entre o Pai celestial e seus filhos, pois “o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12.6,8). O sofrimento ajuda a treinar o cristão a ser obediente ao Pai celestial para ter vida (Hb 12.9). O sofrimento faz parte do processo educativo pelo qual o cristão é capacitado a desfrutar da santidade de Deus no seu viver prático e diário (Hb 12.10), é em outras palavras, ter a capacidade de afirmar o que Paulo afirmou: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20). Todo sofrimento traz no momento a sensação de tristeza, desapontamentos, mas produz o fruto de justiça em sua vida (Hb 12.11).
É necessário entender através da fé que todas as coisas cooperam para o nosso bem (Rm 8.28). Paulo fala muito sobre a realidade da luta, da dor do sofrimento e da morte. O que é negativo, é visto do lado divino: “Porque, se tomamos parte dos sofrimentos de Cristo, também tomaremos parte na sua glória. Eu penso que o que sofremos durante a nossa vida não pode ser comparado, de modo nenhum, com a glória que nos será revelada no futuro. O universo todo espera com muita impaciência o momento em que Deus vai revelar o que os seus filhos realmente são” (Rm 8.17b-19 NTLH). Esta visão parte do pressuposto que o Senhor tem sempre o melhor para nós. Além disso, tudo ganha sentido, sob o ponto de vista e a orientação magistral de Deus. Se pudéssemos ouvir e entender a expressão de sofrimento dos campos, das florestas e de todo o gênero animal, então teríamos uma visão do que significa a “ardente expectativa da criação”, e sua ânsia de libertação. A hora vem onde a vitória de Jesus se tornará manifesta.
Homens de Deus de todas as épocas sentiram e viveram a dura realidade da dor e sofrimento mas permaneceram firmes em todos os transes. Às vezes, a provação dura muito tempo, até séculos sem uma mudança aparente, outras vezes é como uma chuva de verão. Certo é de que todo o sofrimento é apenas para nos provar, nunca para nos destruir (I Pe 4.12).
Ao permitir que o sofrimento bata à nossa porta, Deus está nos dando a oportunidade de crescimento espiritual (II Pe 3.18), permitindo que nos tornemos participantes dos sofrimentos de Cristo Jesus (I Pe 4.13) e desejando que ao enfrentar as intempéries da vida, tenhamos uma alegria indizível na alma, tendo ciência de que a prova da fé produz paciência (Tg 1.2; Rm 5.3; Mt 5.11,12).
O Senhor Jesus não é exaltado pelo sofrimento, mas sim, quando o louvamos em meio ao sofrimento. Por esse motivo, o cristão é chamado a dar um testemunho para outros que se acham amargurados, na mesma situação, desesperados. Os primeiros cristãos aprenderam depressa que é através de muita dor e sofrimento que importa entrar no Reino dos Céus. A maioria dos cristãos primitivos sofreram por causa da fé. Todavia, a comunidade crescia cada vez mais. Mas, então o sofrimento gera crescimento na Igreja? Obviamente que não, mas pela perseverança, fidelidade e amadurecimento dos cristãos em meio aos sofrimentos é que veremos o crescimento do Reino.
Lembre-se: Deus não nos poupa do sofrimento, mas caminha conosco pelo sofrimento!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Reforma e Reavivamento: Crescimento Contagiante da Igreja

Apesar de 31 de outubro já ter ficado para trás, minhas ocupações pastorais não me deixaram postar alguma reflexão sobre a Reforma. Como sei que os princípios da Reforma precisam ser evidenciados todos os dias, coloco a reflexão a seguir para a apreciação de meus leitores.


Por Pastor Sérgio Pereira

No ultimo 31 de outubro comemorou-se os 492 anos da Reforma Protestante, que foi levada a efeito por Martinho Lutero em 31 de outubro de 1517, quando fixou suas famosas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittemberg, na Alemanha.
Com efeito, as bases da Reforma Protestante ainda continuam a falar entre nós. Penso que hoje, elas bradam ainda mais fortemente do que há 492 anos atrás. Nunca esses princípios se tornaram tão importantes como nos dias em que estamos vivendo. Os pilares expostos pela reforma precisam ser reafirmados e vivenciados por pessoas ávidas e sequiosas por mudanças radicais e que ensejam estar perante a face de Deus. Os ensinamentos da Reforma podem ser resumidos em cinco pontos: (1) Sola Scriptura: Somente a Palavra de Deus; (2) Sola Gratia: Somente a Graça de Deus; (3) Sola Fide: Somente a fé; (4) Sola Christus: Somente Cristo; (5) Soli Deo Gloria: Somente a Deus dar glória.
Penso que tais pilares traduzem necessariamente a idéia de um reavivamento espiritual. Um retorno bíblico e cristocêntrico da Igreja pós moderna. O avivamento está intrinsecamente ligado ao crescimento da Igreja. Sob certas condições, pode-se afirmar que o reavivamento causa o crescimento da Igreja.
Reavivamento significa primeiramente purificação e vitalização da Igreja existente. O reavivamento é um dos principais meios de Deus para vivificar a sua Igreja e desenvolver seu programa de justiça, misericórdia e evangelização.
Heber Carlos de Campos diz que: “Reforma é a descoberta da verdade bíblica que conduz à purificação da teologia. Ela envolve a redescoberta da Bíblia como o juiz e o guia de todo pensamento e ação; ela corrige os erros de interpretação; ela dá precisão, coerência e coragem para a confissão doutrinária; ela dá forma e energia à adoração corporativa do Deus triúno”. E acrescenta: “O norte de uma reforma dentro da igreja de Deus está, inquestionavelmente, relacionado à volta aos princípios sadios de fé e prática, propostos pela Santa Escritura. A fé tem que ser fundamentada numa consciência cativa à Palavra, para que a verdadeira reforma aconteça em nosso meio” [1].
Na verdade vivenciamos uma época em que a verdade da Palavra de Deus encontra-se escondida, o que provoca nos crentes pós modernos aridez, sequidão e distanciamento de Deus. Uma volta à Palavra se faz necessária para ocasionar nos meios evangélicos um reavivamento, um ardente desejo por Deus e assim experimentar um vertiginoso crescimento para o Reino de Deus
Não há meio de separar reforma de reavivamento. Parecem irmãos gêmeos nos grandes feitos do Senhor. Quando os dois entram em evidencia, o resultado é um contagiante crescimento na Igreja. Quando Deus concede o reavivamento ao seu povo, o padrão normal é que a santidade de vida aumenta, um novo poder é experimentado e o Evangelho de Cristo é proclamado com fervor, paixão e devoção. O reavivamento conduz a Igreja a uma vida santa, ética e moral. O reavivamento é uma força geradora de poder, dinamismo e fé. O reavivamento impulsiona o cristão a proclamar o evangelho com eficácia, perspicácia e objetivo.
Porque olharmos para o crescimento da Igreja sob a ótica de reforma e reavivamento? Heber Carlos de Campos responde: “Quando falamos de crescimento de igreja temos que olhá-lo como uma moeda com dois lados. De um lado é a Reforma; do outro e o Reavivamento. A primeira traz a solidez e a pureza doutrinárias, elementos essenciais para que a igreja cresça qualitativamente; a segunda traz a verdade doutrinária extrema viva e ardente em nossos corações, impulsionando o povo de Deus a uma vida limpa e de testemunho sincero e voluntário da experiência vivida com Deus e a pujante proclamação da verdade da Escritura, elementos absolutamente vitais para o crescimento da igreja. Isto faz com que a igreja também cresça quantitativamente. Perceba que os dois elementos, reforma e reavivamento, são entrelaçados e inseparáveis, porque são causados pelo mesmo Deus. Não há volta à verdade sem Deus e muito menos amor à verdade sem Ele. O curioso é que esses dois elementos estavam presentes em todos os grandes movimentos da história do povo de Deus no VT, no NT , na Reforma Protestante do século XVI, no período dos Puritanos, do Pietismo e do Metodismo, além dos reavivamentos posteriores na Grã- Bretanha e nos Estados Unidos”.
Reforma e reavivamento estão vinculados à Palavra de Deus. A Escritura é o padrão para a Igreja. É ela que contém o manual prático para a eficiência na busca de um vertiginoso crescimento quantitativo e qualitativo da Igreja.
Reforma e reavivamento levam à praticidade da vida cristã autêntica. Padrões éticos e morais são evidenciados por cristãos “... irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo" (Fp 2.15). Cristãos que cumprem a determinação de Jesus que diz: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus." (Mt 5.16)
Busquemos o crescimento da Igreja, mas busquemos antes a reforma e o reavivamento. Reforma da nossa fé, reavivamento da nossa conduta. Reforma do nosso ser interior, reavivamento das nossas ações exteriores. Reforma dos nossos sentimentos, reavivamento de nosso desejo por Deus. Grande crescimento da Igreja após a reforma e o reavivamento virá onde todas as condições estiverem acertadas à luz da Palavra de Deus. O reavivamento e a reforma provocarão uma grande colheita, uma grande conquista ao ter elementos certos e valores corretos que desfrutem da aprovação do Eterno Deus.
“Ouvi, SENHOR, a tua palavra, e temi; aviva, ó SENHOR, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia.” (Hc 3.2)

[1] Heber Carlos de Campos. Crescimento de Igreja: Com Reforma ou com Reavivamento? Revista Fides Reformata. 1996