domingo, 31 de outubro de 2010

Que Igreja Seremos? Separados Pelo Imediatismo!

Por falta de tempo, não tenho escrito artigos para postar aqui. Por isso minhas últimas postagens tem sido de outros escritores que aprecio e concordo com suas ponderações. Abaixo segue um artigo escrito pelo Pr. Aristarco Coelho. Bom leitura
Que Igreja Seremos? Separados Pelo Imediatismo!


Aristarco Coelho


Essa é outra poderosa muralha que nos separa uns dos outros e impede o amor de acontecer: Se no passado algumas sociedade adotaram o imediatismo como orientação de vida, nunca na história humana ele se tornou um padrão global como agora vemos e vivemos.
Há uma lenda judaica que fala sobre imediatismo.
Dois irmãos que haviam vivido sempre na cidade, resolveram fazer um passeio no campo.
Enquanto caminhavam, viram um homem que arava uma grande porção de terra e acharam muito estranho, não conseguindo entender porque ele destruía assim a campina.
Na seqüência, observaram que o homem colocava sementes nos sulcos que fizera. Um dos irmãos achou que o campo era um local de loucos, pois jogava fora trigo bom. Por isso, voltou à cidade.
O outro irmão, contudo, observou que poucas semanas depois, os pés de trigo começaram a brotar. O campo era um imenso tapete verde. Escreveu para o irmão da cidade a fim de que ele viesse verificar, com seus próprios olhos, a maravilha.
Ele veio e realmente se maravilhou. Mas, passados alguns dias, o verde dos brotos foi dando lugar ao dourado. Então ambos entenderam o trabalho do semeador.
Depressa o trigo amadureceu. O semeador trouxe a foice e começou a ceifar. O irmão que havia retornado à cidade não conseguia acreditar no que via:
O homem parece doido, dizia. Trabalhou o verão todo e agora destrói, com suas próprias mãos, a beleza do trigal maduro. E voltou para a cidade, fugindo do campo.
O outro tinha mais paciência. Ficou e seguiu o fazendeiro. Assistiu a colheita, viu-o levar o trigo para o celeiro. Observou como ele retirou o joio do trigo e o cuidado com o armazenamento.
Sua admiração foi ainda maior ao se dar conta de como um saco de trigo semeado se transformara na colheita de todo um trigal. Só então compreendeu a razão por detrás de cada ato do semeador.
Somos uma geração que se acostumou com coisas instantâneas. Estamos longe da árdua tarefa de cultivar a terra e por isso desconhecemos a lei do plantio e da colheita. Perdemos a habilidade de esperar o tempo necessário para que a vida aconteça de forma natural. Queremos tudo imediatamente.
• Um clique e temos luz;
• Giramos a torneira e temos água;
• Usamos o telefone e falamos com pessoas distantes;
• Vamos ao supermercado e temos todo o alimento que quisermos;
• As filas nos dão a sensação de prejuízo (perda de tempo);
• Computadores lentos são repudiados.
• A falta de objetividade das pessoas nos incomoda;
• Pessoas que não acendem com um clique são menosprezadas;
• Gente que toma o nosso tempo nos causa prejuízo;
• Pessoas confusas e lentas em aprender são repudiadas;
• Gente que não acerta de primeira, não é chamada de novo
Ninguém quer ou precisa abrir mão das facilidades que o progresso nos trouxe, mas precisamos compreender que rapidez e agilidade podem ser ótimas conquistas para o nosso conforto, mas não devem invadir nossos relacionamentos na forma de imediatismo, sob pena de coisificarmos as pessoas e de o amor ser impedido de acontecer.

Por que gostamos de coisas instantâneas?
Pode ser que alguns falem que gostamos de coisas instantâneas porque isso reduz o trabalho, mas eu creio que o imediatismo de nossos dias parece estar profundamente enraizado não no benefício da redução do trabalho, mas na maneira com que nos relacionamos com tempo.
Para a grande maioria da sociedade ocidental o tempo é um bem de consumo avaliado pelas leis econômicas. A máxima de que tempo é dinheiro dá a dimensão da importância desse “produto”.
Mas porque o tempo tem tanto valor se ele é um bem abundante e disponível para todos? A questão é que o tempo é volúvel (isto é, se dissipa rapidamente) e imprevisível (pode chegar ao fim sem nenhum aviso), por isso é tão precioso.
O que faz o tempo se volúvel e imprevisível? A morte. A expectação do fim da vida é que torna o tempo tão preciso. Quanto menor for o horizonte do tempo disponível, mas importante esse tempo se torna.
Muitas pessoas que recebem a notícia do fim provável de suas vidas, são capazes de repensar seus hábitos e refazer sua escala de valores; embora uma notícia como essas também seja capaz de até antecipar o fim de outras pessoas.
Alguns idosos são capazes de se desligar de coisas e situações da quais, em sua juventude, achavam impossível abrir mão, porque agora entendem melhor o valor do pouco tempo que lhes resta; embora outros idosos se tornem ainda mais exigentes, apegados a si mesmos e imediatistas.
A verdade é que quando não há tempo (ou temos a sensação de que o tempo é curto), nos sentimos pressionados, acuados e nos tornamos imediatistas. Então, nossa escala de valores se revela e priorizamos aquilo que realmente é mais importante para nós.
A questão é que se a morte for o ponto final do tempo, então estamos todos destinados ao imediatismo. Os seguidores de Jesus não pensam assim, por isso podem viver libertos do imediatismo.
Nesse mundo, há tempo para todas as coisas.
(1) HÁ UM TEMPO certo para cada coisa: (2) Tempo para nascer, tempo para mor¬rer; tempo para plantar, tempo para colher; (3) tempo para matar e tempo para curar; tempo para destruir, tempo para construir de novo; (4) tempo para chorar, tempo para rir; tempo para ficar triste, tempo para pular de alegria; (5) tempo para espalhar pedras, tempo para ajuntar pedras; tempo para abraçar, tempo para não abraçar; (6) tempo para procurar, tempo para perder; tempo para guardar, tempo para jogar fora; (7) tempo para rasgar, tempo para costurar; tempo para ficar quieto, tempo para falar; (8) tempo para amar, tempo para odiar; tempo para guerra, tempo para ficar em paz. (9) Que vantagem o homem tem com o trabalho pesado, que cansa tanto? (10) Vendo os vários tipos de trabalho que Deus deu aos homens, fiquei pensando nessa pergunta. (11) Todas as coisas têm seu valor quando são feitas na sua hora certa. Deus colocou a eternidade no coração do homem, mas assim mesmo ele não consegue entender completamente os planos e as obras de Deus. (Ecc 3:1-11)
Mas não há só esse mundo.
1Co 15:19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
Quando entendemos que o tempo foi criado por Deus como uma dimensão humana, mas que ele mesmo está fora do tempo, podemos que um dia estaremos libertos do tempo.
Quando nossos horizontes de tempo são alargados para a eternidade, o imediatismo não encontra lugar para prosperar.
Quando passamos a viver a vida na perspectiva da eternidade, a pressão pelo imediato se dissipa e ganhamos tempo para fazer o que há de mais importante: amar as pessoas de forma prática, dedicando nosso precioso tempo.
Quando nossos olhos estão postos na promessa feita por Cristo de que estaremos com ele, o tempo deixa de ser nosso inimigo e passa a ser nosso aliado.
Se queremos derrubar a muralha do imediatismo, precisamos da eternidade em nosso coração e a convicção de que o Senhor estará conosco aqui enquanto amamos os irmãos e esperamos a promessa.

domingo, 24 de outubro de 2010

O Pregador Caipira... Confusão Bíblica

Ontem (23/10/10) ministrei aula de homilética no curso de capacitação de líderes da UMADJO (União da mocidade das Assembleias de Deus de Joinville). Compartilhei com os alunos a estória abaixo que recebi por e-mail e não sei a fonte ou a autoria. Enfatizei a necessidade do preparo bíblico do pregador.
A pedido dos alunos do curso estou postando nesse blog para apreciação dos leitores. Leiam e tirem suas próprias conclusões.

O PREGADOR CAIPIRA... CONFUSÃO BÍBLICA

Conta-se que certo caipira estava no seu trabalho, num canavial, quando, de repente, viu brilhar três letras no céu: VCC.
Muito religioso, o caipira julgou que aquelas letras significavam “VAI, CRISTO CHAMA”. Fiel a visão correu ao pastor de sua Igreja e contou-lhe o ocorrido, concluindo que gostaria de devotar o restante de sua vida à pregação do Evangelho. O pastor surpreso diante do relato, disse:
- Mas para pregar o Evangelho, é preciso conhecer a Bíblia. Você conhece a Bíblia o bastante para sair pelo mundo pregando a sua mensagem?
- Claro que sim! – Disse o homem.
- E qual é a parte da Bíblia que você mais gosta e conhece?
- As parábolas de Jesus, principalmente a do bom samaritano.
- Então, conte-a! – Pede o pastor, querendo conhecer o grau de conhecimento bíblico do futuro pregador do Evangelho.
O caipira começou a falar:
- “Descia um homem de Jerusalém para Jerico, e caiu entre os salteadores. E ele lhes disse: ‘varões irmãos, escutai-me: não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou’. E entregou-lhes os seus bens, e a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade. E partindo dali foi conduzido pelo Espírito ao deserto, e tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome, e os corvos lhe traziam alimento, pois alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E sucedeu que indo ele andando, eis que um carro de fogo o ocultou da vista de todos. A rainha de Sabá viu isso e disse: ‘não me contaram nem a metade’. Depois disso, ele foi até a casa de Jezabel, a mãe dos filhos de Zebedeu, e disse: ‘tiveste cinco maridos, e o homem que agora tens, não é teu marido’. E olhando ao longe, viu a Zaqueu pendurado pelos cabelos numa árvore e disse: ‘desce daí, pois hoje almoçarei em tua casa’. Veio Dalila e cortou-lhe os cabelos, e os restos que sobraram foram doze cestos cheios para alimentar a multidão. Portanto, não andeis inquietos dizendo: ‘que comeremos?’, pois o vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas essas coisas’. E todos os eu o ouviram se admiraram da sua doutrina”.
O caipira entusiasmado olhou para o pastor e perguntou:
- E então, estou pronto para pregar o Evangelho?
- Olha, meu filho – disse o pastor – eu acho que aquelas letras no céu não significavam: “Vai, Cristo chama”. Antes, deveriam ser lidas: “VAI CORTAR CANA”.

MORAL DA HISTÓRIA: Um conhecimento superficial da Bíblia pode causar muita confusão e não é atestado ou certificado de autenticidade para um pregador.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

GANHEI CORAGEM

Recebi o texto abaixo por e-mail. Concordo com quase tudo que Rubem Alves expoe aqui. Por isso compartilho com os leitores deste modesto blog. Faça seus comentários!
Ganhei Coragem
Rubem Alves / Colunista da Folha de S. Paulo
"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo.
Albert Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante a amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre." Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga. Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido! Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
- "Caminhando e cantando e seguindo a canção..."
Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves