Por Pastor Sérgio Pereira
“Para fazer a diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10.10)
“Portanto, assim diz o Senhor: Se tu voltares, então, te trarei, e estarás diante da minha face; e, se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles” (Jr 15.19)
“A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o imundo e o limpo” (Ez 44.23)
Vivemos numa época de sacralização do profano e de profanação do sagrado. Nunca antes esses elementos estiveram tão misturados como nos tempos pós modernos. Desde há tempos, tenho me preocupado com tudo o que temos colocado no sacro ambiente aqui entre nós. Tenho visto comportamentos dos mais variados no ambiente evangélico pentecostal, comportamentos exibicionistas, egocentristas, o chamado antropocentrismo. Não posso me esquecer do uso dos meios de comunicação como “palco” para expressar seus interesses pessoais, filosóficos ou ideológicos, “em nome de Deus”.
Observo a dificuldade do povo de Deus em discernir o santo e o profano. Quanta confusão se faz. Diante da falta de discernimento abrimos espaço para dois pensamentos totalmente distanciados da santidade bíblica; por um lado temos o pensamento legalista onde o caminho é tão estreito que se assemelham aos fariseus ao “coarem mosquitos e engolirem camelos” (Mt 23.24). A estes Jesus de forma peculiar os classificou como: Atadores de fardos nos ombros do outros (Mt 23.4), amantes dos primeiro assentos (Lc 11.13), estorvo da porta do reino dos céus (Mt 23.13), devoradores das casas das viúvas (Mt 23.14), dizimistas de hortelã (Mt 23.23), limpadores do exterior dos copos (Mt 23.25), sepulcros caiados (Mt 23.27), serpentes e raça de víboras (Mt 23.33). No entanto, o termo mais apropriado é aquele empregado pelo Mestre em Mt 23.24: “Condutores cegos! Que coais um mosquito e engolis um camelo”. Assim, aos legalistas restou a medonha denominação “coadores de mosquito e engolidores de camelos”. Por outro lado temos o pensamento perigoso do liberalismo, onde tudo, em nome de uma pseudo liberdade cristã, se é permitido. Paulo aconselha a estes assim: “Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5.13).
Na verdade classificaria a atual geração evangélica corrompida pela profanação de elementos sagrados e pela sacralização de elementos profanos como “coadores de mosquito e engolidores de camelos”.
Assim, côa um mosquito o pai de família que proíbe o namoro de sua filha, porém, engole um camelo pelo fato de possuir uma amante fora do lar, levando uma vida de promiscuidade. Côa um mosquito o empresário que acusa desenfreadamente o ladrão de bicicletas, porém, engole um camelo com a sonegação fiscal da sua empresa. Côa um mosquito o político que diz trabalhar em prol da sociedade, porém, engole um camelo ao envolver-se nas teias da corrupção. Côa um mosquito o irmão da igreja que cobra o uso de determinado tipo de roupa como sinal de santidade, porém, engole um camelo ao desprezar os mais necessitados que mínguam ao seu lado. Côa um mosquito aquele que cobra o pagamento do dízimo, porém, engole um camelo por não refrear sua língua, que conduz dezenas de obscenidades e mentiras. Côa um mosquito o pastor que exige padrões morais de seus membros mais humildes, engole um camelo quando encobre o pecado de seus filhos. Côa um mosquito o cristão que diz ser contra o homossexualismo e o lesbianismo, engolindo um camelo toda vez que se assenta diante da TV para ver novelas que abordam e defendem o referido tema. Côa um mosquito o crente que diz falar a verdade, mas mente na Receita Federal, mente na compra a crediário, mente ao pegar atestado de saúde para sua empresa, etc. Côa um mosquito o líder cristão que aceita os dons espirituais, engolindo um camelo toda vez que permite que o misticismo pernicioso invada sua igreja: sal grosso, lâmpada ungida, rosa ungida, fogueira santa, corredor de milagres, etc. Côa um mosquito o cantor evangélico que diz adorar a Deus, engole um camelo quando cobra altos cachês para puro exibicionismo. Côa um mosquito aquele que diz pregar a palavra, engole um camelo ao fazer exigências avantajadas para a Igreja que o convidou. Côa um mosquito o líder que defende o ministério para alguém chamado por Deus, engole um camelo toda vez que coloca alguém no ministério apadrinhado por ele.
E por aí vai esse processo de coar e engolir. Cobram para não serem cobrados. Requerem para não serem requeridos. Acusam para não serem acusados. Nas mãos possuem um pequeno coador que investiga os erros dos outros. No estômago, milhares de camelos, frutos das suas faltas pessoais. O coador filtra os mínimos pecados alheios. A garganta, que é o coração, observa a passagem de uma manada dos seus pecados.
Alguns como artistas profissionais têm a capacidade de interpretar, fingir, enganar e até chorar se necessário. As máscaras demonstram pessoas ideais e perfeitas, cuja aparência é digna de prêmio de integridade. Porém, chega o momento em que o camelo “entala” nas gargantas. A máscara é removida, quando não estilhaçada. Vislumbra-se, então, o ser humano na sua essência: Arrogância, infidelidade, mentira.
Hoje o que temos visto é a igreja e também os crentes nos seus particulares trocar o melhor de Deus, as coisas mais importantes que são promessas na Palavra de Deus, por coisas que não tem nenhum valor. Estão trocando a Palavra de Deus (Bíblia) por livros de conhecimento humano de Deus, que não podem edificar a vida de ninguém e introduzem heresias nas igrejas e também na vida dos crentes. (Ec 12.11-13; II Pe 1.16-21; Sl 119.105). Estão buscando sabedoria deste mundo, enquanto deveriam buscar sabedoria do Alto. (Tg 3.17; I Rs 3.1-14; Pv 1.7). Estão trocando a comunhão com o Espírito Santo, os ensinamentos vindos pelo Espírito Santo por sabedoria humana, coisas aprendidas em faculdades que nada pode acrescentar para a salvação do homem (Gl 1.6-12; I Co 2.1-5; Jo 14.15-26; I Co 2.13; Is 29.13). Estão trocando as coisas do alto por coisas terrenas, ou seja, estão trocando a fé no invisível pelo que é visível. (Cl 3.1, 2; Mt 6.25-33; II Co 4.16-18). Ensinamento que estimula a busca pelas coisas materiais, o culto regado de festas com muitas musicas mundana, que serve mais para balançar o esqueleto do que para adorar, estão contribuindo e muito para que o crente pense que desta forma ele vai para o céu. Isto tudo está afastando o crente cada vez mais da presença de Deus, e como conseqüência não sentimos a presença de Deus nas igrejas, sentimos sim muitas emoções, gritos e histerias, mas a presença de Deus que é bom não se sente. (Gl 3.1-3; Ef 2.1-3; Gl 5.16-21). Hoje o mundo está dentro da igreja, na verdade a igreja não foi construída para ficar de porta aberta para o mundo entrar nela, mas sim porta aberta para ela sair e invadir o mundo. O mundo está dentro das igrejas através de suas musicas, suas doutrinas, seus lazeres, diante deste quadro não vemos diferença entre a igreja e o mundo.
Por vivermos no tempo da graça, acreditamos que tudo o que fizermos é válido, mas não é bem assim, Deus colocou regras para a igreja e para o seu povo. Existem regras para as nossas igrejas, para as nossas vidas. À medida que nossos cultos são violados, as nossas vidas são violadas, estamos trocando o Santo pelo Profano. Quando trocamos a fé em Jesus Cristo pelas rosas, sal, mantos, coisas que vemos nós estamos trocando o Santo pelo Profano. (At 16.31). Quando introduzimos para dentro de nós coisas que desagradam a Deus, quando achamos que são coisas pequenas e que não tem importância, estamos trocando o Santo pelo Profano. (Zc 3.1-3; Ap 16.15; I Co 6.19,20).
Mas, afinal o que é "santo"? Comecemos pela origem do significado. O termo hebraico para santo provavelmente partiu de um conceito primitivo de separação ou remoção do sagrado do profano. O termo para santo é encontrado predominantemente em sentido religioso e usualmente contém um significado fundamental de "separado", ou "fora" do uso comum. O termo oposto a santo é "impuro" ou "profano" (Lv 10.10).
Quando não separo o santo do profano, corro o risco de me suceder o mesmo que se deu para Belsazar (Dn 5). Belsazar tomou os vasos consagrados do templo para fazer uso em sua festa carnal e pagã, e Deus, contou o seu reino e o acabou, o pesou na balança encontrando-o em falta e dividiu o seu reino. A igreja de Laodicéia estava em situação semelhante: suas obras eram por aparência, não tinham autenticidade; sua religiosidade era hipócrita: nem quente, nem frio; professava o cristianismo mas era espiritualmente desgraçada e miserável (Ap 3.14-22).
Finalizo dizendo que por não fazermos a distinção entre o que é santo e o que é profano, perdemos a oportunidade de sermos boca de Deus (Jr 15.19). Ser boca de Deus é pensar e falar conforme a vontade divina. Ser boca de Deus é traduzido por Paulo como alguém que tem a mente de Cristo (I Co 2.16; Fp 2.5). Precisamos de pessoas como desejo de ser boca de Deus. Que orem e Deus responda. Que profetizem e suas mensagens sejam cumpridas. Que preguem condenando o pecado e resgatando o pecador. Que ensinem com ousadia contra os modismos e alcancem resultados extraordinários.
Irmãos, separemos o santo do profano!